sábado, 10 de outubro de 2009

O BARULHO

O barulho vem da janela.
Um rádio em alto volume , uma música que não se distingue mas sente-se as pulsações. E ruídos, som de vozes, mistura que se faz sem forma, pura atribulação sonora.
Por isso não gosto muito de gente.
Que precisam ocupar os instantes - todos - com sons e presenças. que se espalham feito ar contaminado na necessidade forçada de uma epidemia.
Mas também sou gente, ser vivente com cordas vocais e um corpo que se movimenta. E, no movimento, a possibilidade de ser como todos, ocupar espaços, a espalhar minha existência por cima de outras existências que vão se acumulando fazendo a massa humana que se esbarra na rua, que encontramos no shopping, nos bancos, no ir e vir de todos os lugares.
Há domínio singular no universal?
Meu silêncio não invade o espaço alheio.
Matéria delicada e sutil, mais refinado que o próprio som, o silêncio se deixa por ele transpassar. Assim, o que me resta é ver a paz rompida e a influência dos outros a me encostar no quarto, arrancando de minhas mãos o livro e a caneta, tomando de assalto as palavras entre minha boca e o papel, levando-as para longe, para a perdição do esquecimento.
E isso que me afronta, que invade com seu exército inominável minhas glebas de lavoura e pasto, tem a força dos possessos, dos endiabrados, dos que perderam a fé na eternidade e, por isso, condenam todos ao seu próprio destino.


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