quarta-feira, 21 de outubro de 2009
JUÍZO FINAL II
Era difícil ler, percebera. Ficar mais de cinco minutos tentando seguir a mesma frase que cismava em pular as linhas. Não podia ser normal. As palavras brincavam sob seus olhos. Se escondiam e depois surgiam maiores, cheias e negras à sua frente, unidas umas às outras como uma imensa locomotiva. Um terremoto. Diálogos desmoronavam. Exclamações viravam reticências, interrogações desapareciam em um passe de mágica. Algo muito estranho acontecia. E aquela dificuldade na leitura, com tantos livros á sua volta. Ora faltava-lhe ar. Ora oxigênio demais o fazia delirar. Se auto-proclamava profeta em um planeta decadente. Último dos leitores a se despedir de um mundo iletrado. Encarnação de D. Quixote, Cristo, Gandhi. As letras a escorrerem de seus olhos como o sangue dos santos. O fim próximo. Melhor desistir dos arrependimentos. Deixar as orações e súplicas para outra vida. E começar a ler as últimas linhas dos últimos livros que ainda restavam nas estantes.
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