sexta-feira, 5 de março de 2010

Os anos e os dias

A idade só muda depois de muitas coisas terem mudado antes.
Porque números são frios e fácil o desenhá-los diferentes.
Mas os contornos, o de dentro do ser que se diz homem, muda o tempo todo.
Rasgando amarras, rompendo laços, interrompendo palavras que ficam divididas em sílabas ou coisa parecida.
Essa mudança de pele, de olhos, de cor, de toque e fala é a mudança dos dias. Esses sim muito mais volúveis que os anos.
Porque os anos marcam nossos documentos, nosso discurso, nossa resposta quando nos perguntam a idade. São óbvios, obscenos de tão explícitos.
Mas os dias passam comuns e, desapercebidamente, vão-nos mudando muito mais. E, quando percebemos, somos outros, multidões de desconhecidos vivendo sob a mesma pele, dentro de um mesmo corpo que se finge igual.
Para que nos reconheçamos uns nos outros.
Paa que não nos estranhemos quando olharmos no espelho e não identificarmos a que espécie, afinal, pertencemos.

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